Perfil do Piloto: Conheça um pouco mais sobre César Urnhani
“Faça o que fizer, mas você precisa saber por qual motivo o seu coração bate” com essa frase dita pelo piloto César Urnhani começamos a contar um pouco sobre sua história até chegar ao volante dos carros de competição mais produzidos do planeta.
Que o rosto de César é um dos mais conhecidos do nosso Grid, isso não é segredo para ninguém, afinal falar de televisão e carros é lembrar dessa figura super conhecida.
A história dele com carros começou bem cedo, por volta dos 14 anos de idade quando trabalhava em uma oficina mecânica, montando, desmontando e lavando peças de carro. Sujar a mão de graxa desde pequeno foi um grande trunfo para ele chegar na posição de piloto de testes. Conhecer cada peça e componente que faz parte de um carro foi seu grande diferencial em relação aos outros candidatos.
A vida de piloto de testes é dividida em duas partes, piloto de durabilidade e piloto de performance, mas já voltamos para o que cada um deles faz especificamente. 1989 marcou o primeiro ano de César como piloto de testes na indústria, na época ele era o piloto mais jovem a fazer parte do mercado com apenas 21 anos.
O começo da carreira como piloto de testes foi na extinta empresa Autolatina, onde ficou até o final da empresa em 1994. Como piloto de teste de durabilidade, onde sua principal função era testar se as partes daquele carro “aguentavam o tranco” e as altas quilometragens. Passada essa fase, foi selecionado por ter talento no ramo de piloto de testes e para virar um piloto de performance.
“O piloto de performance é aquele que vai colocar 4 jogos de amortecedor diferentes em um carro e saber dizer qual deles gera mais conforto e tem aquele balanço da estabilidade e segurança. Essa é a atividade que eu desenvolvo até hoje.”
Com o fim da Autolatina, passou para um ramo de muito interesse pessoal, o de pneus. Nesse ramo não testava apenas carros da mesma marca, mas sim todos os carros de todas as marcas “foi quando entendi que podia estudar o DNA de cada marca” foi quando comecei a testar carros importados dos mais diferentes países.
Nesse mesmo tempo surgiu a relação com a comunicação, pois a carreira de piloto de testes exigia isso. Ao mesmo tempo que você precisava entender de carros, você tinha que explicar o que você estava sentindo para os engenheiros que projetaram, então exigia uma explicação bem técnica. Mas, em contraponto tinha que passar aquelas sensações para o público que não tinha aquele mesmo conhecimento técnico.
“As pessoas acham que os pilotos de teste entendem só de carro, mas temos que entender as pessoas. As reações humanas na crise, um pouco de fisiologia, pois o carro é feito para o ser humano, então você precisa entender do ser humano para desenvolver um carro para ele”
Ficou conhecido depois que começou a trabalhar como instrutor junto com o Ingo Hoffman em treinamentos de montadoras de carro da época. Uma dessas versões era voltada para a imprensa, foi aí que começaram a convidá-lo para ser fonte em assuntos relacionados ao mercado automotivo.
“Até então eu não andava de carro de corrida, e já estava na hora, se não seria um frustrado! Como assim trabalhar na indústria e nunca ter experimentado a sensação de andar em um carro de corrida?”
Em 2001 participou da tradicional prova das 1000 milhas de Interlagos, junto com Alfredo “Guaraná” Menezes e a estreia veio com título na categoria. A carreira nas pistas continuou rendendo frutos, até ganhar o Capacete de Ouro em 2007.
A carreira nas pistas então ficou para trás, por causa de compromissos profissionais diversos incluindo o Driver Training, piloto de testes da Pirelli, Auto Esporte, CBN Motor além de trabalhar no setor corporativo com treinamento e práticas para empresas com funcionários que dirigem carros. Foi então que se viu como um formador de opinião do meio automotivo.
Depois de quase 10 anos afastado das competições de automobilismo o assunto voltou à tona em conversa com o filho.
“Um pouco antes do meu filho ir para os EUA fazer o High School por lá ele me perguntou sobre meus troféus e disse que não tinha lembrança nenhuma deles. Afinal em 2001 ele nem era nascido, já em 2007 e 2008 era muito pequeno para me acompanhar e ter lembranças da época. Ele me disse que seria muito legal se eu voltasse a correr para viver aquela emoção junto comigo”
Foi então que o desejo de voltar as pistas aconteceu. Para ele, voltar as pistas tinha que acontecer em uma categoria que ele gostasse e acompanhasse.
“Sempre acompanhei a Porsche Cup, toda vez que tinha corrida eu estava assistindo. Para mim é a melhor categoria que temos correndo no Brasil hoje, se fosse voltar a correr teria que ser de Porsche. Até porque eu sou um consumidor da marca. Inclusive tenho uma 992 2020. Sou apaixonado pela Porsche.”
César lançou um livro com uma frase que ficou muito marcada para ele: “ Muita atenção com o que deseja, pois o mundo conspira em seu favor” e parafraseando outro trecho do livro que diz: “Você só enxerga as paisagens das montanhas que você escalar”, foi com isso que beirando os 50 anos voltou a pensar em voltar as pistas.
Junto de seus os patrocinadores, César arquitetou sua volta às pistas. Vindo de baixo, voltando aos poucos pois os 10 anos afastados das pistas não lhe permitiam voltar “acelerando feito um louco” em 2019 veio a surpresa de ganhar a categoria Sport no Endurance durante um ano que o planejado era conhecer a categoria.
O momento mais marcante na Porsche Cup veio no ano de 2019, na lendária pista do Estoril. O traçado que foi palco da primeira vitória de Ayrton Senna na F1 também traz boas recordações para César.
“Foi a corrida na semana que meu filho voltou dos EUA, ele chegou de viagem e já embarcou com a gente para a corrida em Portugal, era a realização daquele sonho de vivermos juntos a atmosfera de um final de semana de corrida. Quis Deus que no mesmo palco que o Ayrton ganhou a primeira corrida na F1, na primeira corrida que meu filho me acompanhava ganhamos a corrida na categoria. Cheguei em 4º ou 5º da geral e ganhei a categoria.
Foi um momento muito emocionante, pois meu filho subiu para me dar o troféu. Me marcou muito pois todos nós tentamos deixar um legado para as pessoas, famílias e filhos.”
O momento marcou tanto sua vida que virou um quadro dessa cena, além de virar tema nas palestras que ele apresenta em diferentes ambientes mundo a fora. Com isso voltamos a frase que abriu esse texto “Faça o que você fizer, você tem que saber o motivo pelo qual seu coração bate”
Este é César Urnhani, um cara que tenta ser técnico e emocional ao mesmo tempo, tentando fazer amizade com todos aqueles envolvidos no grid do campeonato, mecânicos, pilotos e organização.